Como lidar com o diagnóstico de APLV: passos após a confirmação

Receber o diagnóstico de APLV (alergia à proteína do leite de vaca) em um bebê pode ser um momento de alívio — por finalmente entender a origem dos sintomas —, mas também de insegurança. A pergunta que geralmente surge logo em seguida é: “E agora? Como vou cuidar do meu bebê daqui pra frente?”

É normal que, num primeiro momento, a cabeça fique cheia de dúvidas: o que pode ou não comer? Preciso parar de amamentar? Como adaptar a alimentação da família? Posso confiar nos produtos industrializados? Neste texto, vamos te guiar nos primeiros passos essenciais após a confirmação da condição, com orientações práticas, sem generalizações e com base em experiências reais.

Como lidar com o diagnóstico de APLV

1. Entenda o diagnóstico: o que realmente significa ter APLV

A APLV é uma reação imunológica anormal à proteína do leite de vaca, e não deve ser confundida com intolerância à lactose (que é uma dificuldade em digerir o açúcar do leite). Ela pode se manifestar com sintomas gastrointestinais (sangue nas fezes, refluxo, diarreia), dermatológicos (eczema, urticária), respiratórios (congestão, chiado) ou até comportamentais (irritabilidade, sono agitado).

No caso dos bebês, o tratamento não envolve medicamentos, mas sim uma mudança alimentar — tanto da criança quanto, muitas vezes, da mãe, se o bebê for amamentado exclusivamente no peito.

2. Se o bebê mama no peito, a dieta de exclusão começa por você

Um dos primeiros ajustes que pode ser necessário é a dieta de exclusão da proteína do leite de vaca pela mãe. Isso significa que você precisa evitar leite, queijos, iogurtes, manteiga, creme de leite, entre outros — e todos os alimentos que possam conter traços de leite em sua composição.

Essa mudança exige atenção redobrada aos rótulos dos produtos e muita paciência nos primeiros dias. Ingredientes como caseína, soro de leite, lactoalbumina, proteína do leite, leite em pó, margarina com leite e tantos outros termos técnicos escondem a proteína causadora da alergia. É um verdadeiro novo vocabulário alimentar.

E não se preocupe: apesar de parecer difícil no início, existem muitos caminhos para manter uma dieta equilibrada e saborosa mesmo sem leite de vaca.

3. E se o bebê usa fórmula?

Se o bebê já consome fórmula, o leite comum precisa ser imediatamente substituído por uma fórmula hipoalergênica, que pode ser:

  • Extensamente hidrolisada: em que as proteínas são quebradas em fragmentos menores, menos alergênicos.
  • À base de aminoácidos: indicada para casos mais severos ou quando não há resposta à fórmula hidrolisada.

A escolha da fórmula adequada deve ser feita pelo pediatra ou alergista, com base na gravidade do quadro e na resposta clínica do bebê.

4. Prepare-se para a introdução alimentar com cuidado

Se o seu bebê está próximo dos 6 meses, ou já iniciou a introdução alimentar, será necessário adaptar o cardápio. Isso inclui evitar:

  • Alimentos preparados com leite (pães, bolos, purês com manteiga, papinhas com queijo etc.)
  • Produtos industrializados que contenham leite ou traços
  • Contaminação cruzada na cozinha (colheres, panelas, tábuas de corte usadas com leite)

Você precisará investir em leitura de rótulos e preparo caseiro de receitas. Aos poucos, você aprenderá a adaptar receitas com segurança — como fazer mingaus com bebidas vegetais, bolos sem leite e até queijos vegetais para deixar o cardápio mais variado.

5. Monte uma rede de apoio (e selecione as informações que consome)

O excesso de informação pode ser paralisante, principalmente nas redes sociais, onde cada mãe vive uma experiência diferente. Uma dica importante é se conectar com grupos de apoio (online ou presenciais), mas manter o acompanhamento sempre com um profissional de confiança. Ele é quem vai te ajudar a avaliar se o bebê está evoluindo bem, quando é hora de tentar reintroduzir a proteína e como lidar com possíveis reações.

Evite começar dietas restritivas por conta própria. E lembre-se: APLV tem tratamento e, em muitos casos, remissão. A maioria dos bebês supera a alergia entre 1 e 3 anos de idade.

6. Comece a registrar tudo: sintomas, alimentos, reações

Manter um diário alimentar e de sintomas é um passo essencial para esse início. Anote:

  • O que você ou o bebê comeram
  • Quais sintomas apareceram e quando
  • Alterações nas fezes, sono, humor

Essas informações vão ajudar o profissional a ajustar a dieta e identificar possíveis outros alérgenos.

Receber o diagnóstico de APLV pode parecer assustador no começo, mas é também o primeiro passo para o alívio do bebê e a tranquilidade da família. Com organização, informação de qualidade e o apoio certo, é totalmente possível lidar com as restrições alimentares sem abrir mão da saúde, da nutrição e do prazer de comer bem.

Você vai aprender aos poucos, errar aqui e ali, mas também vai se surpreender com o quanto é capaz. E o mais importante: seu bebê vai agradecer o seu cuidado.

Referências:

ALERGIA À PROTEÍNA DO LEITE DE VACA. Tratamentos. Disponível em: https://www.alergiaaoleitedevaca.com.br/tratamentos.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Alergia ao leite de vaca. Rio de Janeiro: SBP, jan. 2018. Disponível em: https://www.sbp.com.br/especiais/pediatria-para-familias/doencas/alergia-ao-leite-de-vaca/. Acesso em: 24 abr. 2025.

BRASIL. Ministério da Saúde. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Alergia à Proteína do Leite de Vaca. Brasília: Ministério da Saúde, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/conitec/pt-br/midias/consultas/relatorios/2022/20220427_pcdt_aplv_cp_24.pdf.